
A 1ª Tenente Myrelle Cândida de Oliveira, natural de Tabira, é a primeira mulher a comandar uma companhia militar no Sertão pernambucano. Sua atuação à frente da 3ª Companhia da PM de São José do Egito ganhou repercussão na imprensa estadual. Confira a matéria na íntegra.
Mulher à frente do batalhão
Matéria de Adaíra Sene
“As pessoas, por vezes, pensam que os policiais não temem. Elas esquecem que seres humanos estão por trás da farda. Existe o medo e a preocupação. Mas é a nossa fé em Deus e no profissionalismo dos que estão conosco que nos faz continuar”. As palavras são de Myrelle Cândido de Oliveira, 31 anos, comandante da 3ª Companhia de Polícia Militar de São José do Egito. Em dois meses de chefia, foi a responsável pela prisão do assassino mais procurado do Sertão do Pajeú, no último dia 5. Localizou um traficante internacional foragido da Justiça e está transformando a realidade dos moradores da sua área integrada de segurança: São José do Egito, Tuparetama, Itapetim e Brejinho – cidades que fazem fronteira com a Paraíba e vivem aterrorizadas pelo tráfico de drogas.
Filha de sargento, irmã de tenente e soldado, ex-mulher de capitão. Primeira tenente, mas, antes disso, mãe de uma pequena de cinco anos que a faz querer mudar para melhor a realidade que a cerca. Com apenas 17 anos, foi aprovada no Curso de Formação de Oficiais. Dividiu os três anos da academia de polícia com outras quatro meninas e inúmeros homens. Uma garota que se tornou mulher em regime de semi-internato. “Tive que amadurecer rápido”, lembra. Depois disso, foi conquistando espaço em um meio onde a liderança ainda é predominantemente masculina.
Na capital, trabalhou no 16º Batalhão – área central do Recife -, serviu à Radiopatrulha, mas decidiu regressar. “Sou filha do Sertão, aqui é o meu lugar”, explica. Foi responsável pela prisão do homicida Marcos Rodrigues dos Anjos, o número 1 da lista dos mais procurados do Sertão. O traficante internacional Paulo de Tarso, um dos responsáveis pela entrada de droga oriunda do Paraguai no Nordeste, também foi um alvo capturado por ela. Nas palavras de seu superior, o comandante do 23º Batalhão de Afogados da Ingazeira, a primeira tenente Myrelle é um orgulho para qualquer corporação. “A PM ainda tem uma segmentação bastante machista, mas ela está conseguindo transpor esse obstáculo. Quando eu a designei para comandar uma equipe, não tive dúvidas de que seria capaz. Acredito na sua força de trabalho, integridade e capacidade administrativa”, ressalta.
Entrevista >> Myrelle Cândido de Oliveira, 31 anos – comandante da 3ª CPM do 23º BPM/PE
Como você despertou para a carreira militar?
Tenho esse histórico familiar de polícia. Só minha mãe não é da PM e, sendo bem sincera, ela é que sempre manda. Mas meu pai, meu irmão mais velho, o mais novo e até meu ex-marido são militares. Quando fiz 17 anos abriram cinco vagas para mulheres no curso para oficiais aqui do estado. Passei. Entrei muito nova, enfrentei dificuldades, mas aprendi a viver. Hoje, tenho 14 anos de polícia. Já trabalhei em Serra Talhada, no 16° Batalhão do Recife, na Radiopatrulha. Experiências bem-sucedidas e resolvi voltar para casa.
O que passa na sua cabeça antes de entrar em ação?
A adrenalina fica a mil. Mas acredito muito no trabalho dos que estão comigo. Com equilíbrio e profissionalismo fazemos dar certo. Tenho uma filha pequena. Sempre penso nela antes das operações. Confio nos meus policiais e em Deus para ter a certeza que vou voltar pra casa. Não existe diferença entre eu e eles. Na hora das ações, estamos todos no mesmo barco. Esse comando não é só meu. É deles também. Só conseguiremos, se continuarmos juntos.
Fonte: Diário de Pernambuco
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