É triste de ver e de viver.
Abastecimento d’água com carro pipa em caixas – 40 ao todo – e muitas latas d’água na cabeça.
Essas caixas não encaixam.
Não é pela estética. A cidade está mais feia com elas. Mas, pior do que estética é passar sede.
Elas não encaixam é água suficiente para
a população. Elas não encaixam a falta de caráter de quem já está
roubando sua água. Cada dia sabe-se de um fato novo. Houve até quem
botou bomba nelas e encheu seu próprio reservatório.
Elas não encaixam a irresponsabilidade,
dos políticos principalmente. Políticos de ontem e de hoje. Políticos de
cá e políticos de lá da capital do Estado e da capital Federal.
Tampouco encaixam a irresponsabilidade de um povo que não se adaptou a
viver no sertão. E vive nele como quem vive em Nova Iorque. Desde tempos
imemoriais que a relação do homem com a natureza é uma relação de
adaptabilidade. E quem deve se adaptar é sempre o homem. A natureza,
nunca. Nunca se curvou ao ser humano. Mas, o homem, pra viver e se
perpetuar, sempre teve que se curvar à natureza e à mãe-terra, a Gaya.
Olhem nós ai, de novo curvados a ela. Implorando uma gota d’água que o céu não quer chorar.
As caixas não encaixam a desculpa de que
Deus é o culpado. Elas não encaixam o argumento de que é por falta de
chuva. Muito menos, encaixam o desperdício, a futilidade, a vaidade do
humano, que em tempos de crise, vive como se crise não houvesse.
Essas caixas não encaixam as
imbecilizantes disputas políticas, familiares, grupais, onde todos – e
no final, nenhum – se arvoram em defensores da população. Tampouco
encaixam o sectarismo de eleitores que apóiam esses políticos, sem nem
sequer questioná-los. Não encaixam os montantes gastos pra elegerem
incompetentes aos cargos do Legislativo e Executivo. Não encaixam os
investimentos de empresários que não estão nem ai pra população.
Satisfazem, quando muito, seu Ego egoísta. Elas não encaixam o
sofrimento dos pobres, que são sempre quem pagam o pato. Elas não
encaixam a falta de solidariedade dos que acumulam água em suas
cisternas de 60, 80 e até 100 mil litros d’água. Isso é anti-ético.
Mas falar em ética num pais onde quem manda é o dinheiro é não encaixar bem as coisas.
Essas caixas d’água não encaixam o século XXI com problemas do século XIX.
E você, caro leitor, pense em outras coisas que essas caixas não encaixam.
Uma coisa eu tenho certeza: é muita coisa.
(Fonte: Radar do Sertão).
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