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Lula é Miguel Arraes em 1989. Primeiras eleições
presidenciais pós-regime militar instalado em 1964
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No dia em que a família de
Eduardo Campos declara apoio formal ao presidenciável tucano Aécio Neves,
presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, divulga carta aberta em que defende
a reeleição de Dilma Rousseff (PT), acusa o partido de cometer “suicídio
político-ideológico” e de trair seus fundadores, como Miguel Arraes, avô de
Campos.
“Ao aliar-se acriticamente
à candidatura Aécio Neves, o bloco que
hoje controla o partido, porém, renega compromissos programáticos e
estatutários, suspende o debate sobre o futuro do Brasil, joga no lixo o legado
de seus fundadores e menospreza o árduo esforço de construção de uma resistência
de esquerda, socialista e democrática”, diz a carta o texto de Amaral publicado em seu site pessoal.
Leia na íntegra a
carta aberta clicando no link abaixo!
"Mensagem aos
militantes do PSB e ao povo brasileiro
A luta interna no PSB,
latente há algum tempo e agora aberta, tem como cerne a definição do país que
queremos e, por consequência, do Partido que queremos. A querela em torno da
nova Executiva e o método patriarcal de escolha de seu próximo presidente são
pretextos para sombrear as questões essenciais. Tampouco estão em jogo nossas
críticas, seja ao governo Dilma, seja ao PT, seja à atrasada dicotomia PT-PSDB
– denunciada, na campanha, por Eduardo e Marina como do puro e exclusivo
interesse das forças que de fato dominam o país e decidem o poder.
Ao aliar-se acriticamente
à candidatura Aécio Neves, o bloco que hoje controla o partido, porém, renega
compromissos programáticos e estatutários, suspende o debate sobre o futuro do
Brasil, joga no lixo o legado de seus fundadores – entre os quais me incluo – e
menospreza o árduo esforço de construção de uma resistência de esquerda,
socialista e democrática.
Esse caminhar tortuoso
contradiz a oposição que o Partido sustentou ao longo do período de políticas
neoliberais e desconhece sua própria contribuição nos últimos anos, quando, sob
os governos Lula dirigiu de forma renovadora a política de ciência e tecnologia
do Brasil e, na administração Dilma Rousseff, ocupou o Ministério da Integração
Nacional.
Ao aliar-se à candidatura
Aécio Neves, o PSB traiu a luta de Eduardo Campos, encampada após sua morte por
Marina Silva, no sentido de enriquecer o debate programático pondo em xeque a
nociva e artificial polarização entre PT e PSDB. A sociedade brasileira, ampla
e multifacetada, não cabe nestas duas agremiações. Por isso mesmo e,
coerentemente, votei, na companhia honrosa de Luiza Erundina, Lídice da Mata,
Antonio Carlos Valadares, Glauber Braga, Joilson Cardoso, Kátia Born e Bruno da
Mata, a favor da liberação dos militantes.
Como honrar o legado do
PSB optando pelo polo mais atrasado? Em momento crucial para o futuro do país,
o debate interno do PSB restringiu-se à disputa rastaquera dos que buscam
sinecuras e recompensas nos desvãos do Estado. Nas ante-salas de nossa sede em
Brasília já se escolhem os ministros que o PSB ocuparia num eventual governo
tucano. A tragédia do PT e de outros partidos a caminho da descaracterização
ideológica não serviu de lição: nenhuma agremiação política pode prescindir da
primazia do debate programático sério e aprofundado.
Quem não aprende com a
História condena-se a errar seguidamente.
Estamos em face de uma das
fontes da crise brasileira: a visão pobre, míope, curta, dos processos
históricos, visão na qual o acessório toma a vez do principal, o episódico
substitui o estrutural, as miragens tomam o lugar da realidade. Diante da
floresta, o medíocre contempla uma ou outra árvore. Perde a noção do rumo
histórico.
Ao menosprezar seu próprio
trajeto, ao ignorar as lições de seus fundadores – entre eles João Mangabeira,
Antônio Houaiss, Jamil Haddad e Miguel Arraes –, o PSB renunciou à posição que
lhe cabia na construção do socialismo do século XXI, o socialismo democrático,
optando pela covarde rendição ao statu quo. Renunciou à luta pelas reformas que
podem conduzir a sociedade a um patamar condizente com suas legítimas
aspirações.
Qual o papel de um partido
socialista no Brasil de hoje? Não será o de promover a conciliação com o
capital em detrimento do trabalho; não será o de aceitar a pobreza e a
exploração do homem pelo homem como fenômeno natural e irrecorrível; não será o
de desaparelhar o Estado em favor do grande capital, nem renunciar à soberania
e subordinar-se ao capital financeiro que construiu a crise de 2008 e
construirá tantas outras quantas sejam necessárias à expansão do seu domínio,
movendo mesmo guerras odientas para atender aos insaciáveis interesses
monopolísticos.
O papel de um partido
socialista no Brasil de hoje é o de impulsionar a redistribuição da riqueza,
alargando as políticas sociais e promovendo a reforma agrária em larga escala;
é o de proteger o patrimônio natural e cultural; é o de combater todas as formas
de atentado à dignidade humana; é o de extinguir as desigualdades espaciais do
desenvolvimento; é o de alargar as chances para uma juventude prenhe de
aspirações; é o de garantir a segurança do cidadão, em particular aquele em
situação de risco; é o de assegurar, através de tecnologias avançadas, a defesa
militar contra a ganância estrangeira; é o de promover a aproximação com nossos
vizinhos latino-americanos e africanos; é o de prover as possibilidades de
escolher soberanamente suas parcerias internacionais. É o de aprofundar a
democracia.
Como presidente do PSB,
procurei manter-me eqüidistante das disputas, embora minha opção fosse
publicamente conhecida. Assumi a Presidência do Partido no grave momento que se
sucedeu à tragédia que nos levou Eduardo Campos; conduzi o Partido durante a
honrada campanha de Marina Silva. Anunciados os números do primeiro turno,
ouvi, como magistrado, todas as correntes e dirigi até o final a reunião da
Comissão Executiva que escolheu o suicídio político-ideológico.
Recebi com bons modos a
visita do candidato escolhido pela nova maioria. Cumprido o papel a que as
circunstâncias me constrangeram, sinto-me livre para lutar pelo Brasil com o
qual os brasileiros sonhamos, convencido de que o apoio à reeleição da
presidente Dilma Rousseff é, neste momento, a única alternativa para a esquerda
socialista e democrática. Sem declinar das nossas diferenças, que nos colocaram
em campanhas distintas no primeiro turno, o apoio a Dilma representa mais
avanços e menos retrocessos, ou seja, é, nas atuais circunstâncias, a que mais
contribui na direção do resgate de dívidas históricas com seu próprio povo,
como também de sua inserção tão autônoma quanto possível no cenário global.
Denunciamos a estreiteza
do maniqueísmo PT-PSBD, oferecemos nossa alternativa e fomos derrotados:
prevaleceu a dicotomia, e diante dela cumpre optar. E a opção é clara para quem
se mantém fiel aos princípios e à trajetória do PSB.
O Brasil não pode
retroagir.
Convido todos, dentro e
fora do PSB, a atuar comigo em defesa da sociedade brasileira, para integrar
esse histórico movimento em defesa de um país desenvolvido, democrático e
soberano.
Rio de Janeiro, 11 de
outubro de 2014.
Roberto Amaral"
http://www.vermelho.org.br/
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