Por Wanderley Preite
Sobrinho
Um aluno de oito anos
desmaiou de fome na última segunda-feira (13) em uma escola do Cruzeiro, no
Distrito Federal. Ele é um dos estudantes carentes que moram no Paranoá Parque
e que, todos os dias, viajam 30 km - quase sempre sem comer - para estudar na
região.
A criança, que frequenta a
Escola Classe 8, mora em um empreendimento do Minha Casa, Minha Vida. Deste
local, 250 alunos são transportados diariamente para uma unidade de ensino no
Cruzeiro. "Assim que os alunos chegam, eu cumprimento um a um",
relembra ao UOL Ana Carolina Costa, professora do 2º Ano Fundamental. "Mas
quando chegou a vez o menino, percebi que chorava." Ele estava com a mão
no peito, coração disparado, passando mal. "Levei para a direção. Por duas
vezes ele apagou. Não reagia”.
A professora acionou o
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e chamou os três irmãos do
garoto, que também estudam na escola. "Eles ficaram calados, com caras de
assustados." Questionados, disseram que não tinham comido nada no domingo
e que naquela segunda tinham tomado mingau de fubá (fubá, água e sal) antes de
sair de casa.
"Quando a gente
percebeu que era fome, eu saí de perto para chorar. O rapaz do Samu me olhou
com uma cara de 'que realidade é essa?'. E eu disse que é sempre assim. Eu
tenho dois alunos que todos os dias reclamam de fome", diz.
A professora reuniu outros
membros da escola e foi levar uma cesta básica para a família do estudante.
"A mãe nos disse que tinham o suficiente. Mas enquanto a gente conversava,
só tinha uma panela de arroz sobre o fogão. A criança mais nova toda hora
enfiava a mão na panela para comer. Ter comida para eles em casa é ter
fubá", lamenta.
Ana garante que mais
estudantes passam fome em sua classe. "Dos meus 18 alunos, quatro chegam
com fome todos os dias. É a metade que não come, mas esses quatro são muito
carentes." Ela, então, vai à cantina, pega uma fruta e leva para uma
criança ou outra "para conseguir enganar a barriga deles e conseguir dar
aula até o intervalo”.
O Sindicato dos
Professores (Sinpro-DF) já pediu à Secretaria de Educação a construção de uma
escola na região do Paranoá Parque. "Se não é possível construir agora, a
escola tinha de, no mínimo, oferecer uma refeição na entrada: arroz, feijão e
frango, e um lanche à tarde", disse ao UOL Samuel Fernandes, diretor da
entidade.
Ele explica que os alunos
que estudam em período parcial recebem apenas um lanche, às 15h30. "Em uma
semana, é comida duas vezes por semana e biscoito e suco nos outros três dias.
Na outra semana é o oposto. A criança fica até oito horas longe de casa. Até se
almoçar às 11h, ela não aguenta", diz.
Mesmo quando completa, a
merenda "não é boa, é pouco nutritiva", garante a professora. "O
feijão é enlatado, com sódio. É uma carne que tem de ferver antes para tirar o
sebo que tem em cima. Mas diante da realidade dos meninos, é melhor do que nada.”
Procurada, a Secretaria de
Educação do Distrito Federal (SEE-DF) "lamenta que o aluno tenha passado
por esta situação". A pasta diz que "não foi informada formalmente
sobre o problema" de merenda e que vai apurar "diretamente na ena
escola, com o gestor da unidade, qual a real situação dos alunos para, em
conjunto com a direção e coordenação regional de ensino, encontrar uma solução
razoável”.
Ainda segundo a secretaria,
a construção de escolas no Paranoá Parque e no Itapoã consta no plano de obras
2015/2018, mas "não há disponibilidade financeira imediata para as
obras". O órgão dispõe de um terreno para esta finalidade em cada uma das
cidades. "No caso do Itapoã, o projeto para a construção de uma Escola
Classe já está concluído e aguarda dotação financeira.”
Mas promete que 84
crianças, hoje no 5º ano no Cruzeiro, "irão cursar o 6º ano nos Centros de
Ensino Fundamental 03 e 05 do Paranoá, em 2018". A professora Ana faz um
apelo: "Que a secretaria olhe com carinho para a nossa escola, que
é especial por atender tantas crianças pobres. Que o cardápio tenha, pelo
menos, almoço na entrada.”
Fonte:https://noticias.bol.uol.com.br
Caminhoneiro manda recado para Michel Temer
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