Por Ívyna Souto
Passei o dia devastada,
impactada, coisa demais para assimilar, violência demais, feio demais, dor
demais, esperança demais sendo assassinada, brutalidade demais contra as
denúncias de uma pessoa que falava sobre a corrupção e as agressões sofridas
pelas pessoas da periferia. Marielle nasceu e cresceu no Complexo da Maré, lá
no Rio de Janeiro.
Alguns dirão que eu não
deveria me preocupar com isso porque aconteceu longe da Paraíba, mas a dor que
passei o dia sentindo continua aqui dentro de mim, corroendo tudo que acredito
e me causando pânico pela possibilidade da queima de arquivo, da aniquilação de
quem ousar ir de encontro ao sistema de corrupção posto há tanto tempo naqueles
agentes de segurança, naquele estado, que passa hoje por intervenção do
Exército, que por sua vez, maltrata quem é pobre, quem é negro e tem menos
poder de fala.
Como fazer para seguir
acreditando que todo o esquema poderá ter fim um dia?
Depois de um dia inteiro
vendo a repercussão do caso no Brasil e no exterior, penso que Marielle é um
ícone de luta pela sua comunidade, uma representação tão forte e tão importante
que não pode ter sua luta esquecida ou ignorada. Quando ela mesma publicou (um
dia antes de ser morta) um questionamento sobre quantas pessoas precisam morrer
para que o cenário mude, ela nem imaginava que poderia ser vítima de uma
armadilha, de uma tocaia, de um crime encomendado. Sua luta e suas
reivindicações não foram a toa, não foram em vão, quem dá a vida por uma causa,
quem vive por uma causa, merece ter sua voz ouvida, ter o eco de seus gritos
prolongados, repetidos e registrados na história.
Marielle lutava pela vida
das pessoas negras, LGBT, pelo direito das mulheres, mas sobretudo pelas
pessoas mais pobres, que tem os gritos abafados e ignorados. Sigamos gritando e
mais alto, para valer por dois, a luta é grande e deve continuar, apesar da
dor. Mais uma vida negra, mais uma mulher, mais uma voz sendo calada para não
mostrar a realidade feia e crua de quem vive esquecido, de quem não tem acesso
a tantas coisas, de quem é jogado à ignorância para se tornar apenas massa de
manobra.
Racismo, machismo,
homofobia, luta de classes? Tudo isso junto.
Fonte: aguabrancaemfoco.com.br
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