
O jornalista Reinaldo
Azevedo, conhecido por suas posições de direita e pelo apoio decidido ao golpe
de 2015/16 reconhece:
"É o liberalismo de Bolsonaro que seduz parte dos
ricos e universitários? Não! É ódio a pobre e à diferença"; este é o título
de seu mais recente artigo;
"O Jair Bolsonaro 'liberal', no qual acreditam
setores do mercado, é só uma invenção eleitoral oportunista em que o medo de
pobre e de preto, compartilhado por setores da classe média e dos ricos, finge
acreditar"
Por Reinaldo Azevedo
O Jair Bolsonaro
“liberal”, no qual acreditam setores do mercado, é só uma invenção eleitoral
oportunista em que o medo de pobre e de preto, compartilhado por setores da
classe média e dos ricos, finge acreditar.
“Ah, só classe média e
rico vota em Bolsonaro?”
Quem leu isso no que
escrevi pode parar por aqui porque é analfabeto funcional e não vai entender o
resto. Vá votar no “capitão” e seja feliz em sua vida ágrafa.
A única saída que o Brasil
tem para a crise — ÚNICA — é diminuir os gastos do Estado e a interferência do
dito-cujo na economia. Teria de haver uma redução de desembolsos propriamente,
com a revisão de determinados programas e da brutal renúncia fiscal sob o
pretexto de proteger alguns setores — ou “os empregos”, na versão estúpida
adotada pelo governo Dilma.
Ocorre que isso não se faz
sem uma pactuação política e sem negociar a redução do tamanho do gigante com
os setores diretamente beneficiados. É trabalho para candidato a estadista, não
para economista em fase de mania. Nesse caso, só remédio resolve; não o poder.
A estratégia de Bolsonaro,
em havendo uma, é o “choque”. A turma é tão fascinada pelos movimentos
circenses de Donald Trump que tentará reproduzir por aqui o que o malucaço faz
por lá. “Ah, mas está dando certo…” Peguem a interferência que tem o Estado
americano na vida dos cidadãos e a que tem o Estado brasileiro. O sistema
americano até pode abrigar um “clown”, se é que ele termina o mandato; o do
Brasil, não. Mas isso fica para outra hora.
O fato e que inexiste um
“Bolsonaro liberal”. Existe é um Paulo Guedes que pode ser identificado com
esse pensamento em economia, mas que dá mostras de não entender como funciona a
democracia. A sua proposta mais clara sobre impostos, tanto quanto aquilo é
claro, foi exposta em encontro privado de investidores, misturando unificação
de impostos com volta da CPMF. As tentativas de desmentido soaram patéticas.
Quando menos porque os impostos unificados não são universais — pagos por todos
—, e a CPMF sim. Aritmética elementar: está sobretaxando o pobre, que já é,
relativamente, quem mais paga impostos no Brasil.
Então por que esse encanto
com Bolsonaro? Ah, porque, como é mesmo?, é um homem “sem medo de dizer
verdades”.
E, ora vejam, suas
“verdades” nada têm a ver com economia ou política. Bolsonaro faz com que os
preconceitos mais primitivos, mais incivilizados e potencialmente mais brutais
se manifestem como coisa normal, corriqueira, como parte da vida. Afinal, “tem
preto folgado mesmo”; “esses índios são uns preguiçosos”; “Maria do Rosário é
mesmo feia” (nego-me a reproduzir o resto do raciocínio até como caricatura);
“bandido bom é bandido morto”; “brasileiro gosta é de mamata”; “essas pessoas
penduradas no Bolsa Família são umas preguiçosas ou estariam trabalhando…”
Não é o liberalismo de
Bolsonaro que seduz porque este, a rigor, não existe. A sua trajetória o prova.
É a mobilização da besta do preconceito e do rancor instalada no fundo de
algumas consciências.
Para essas almas
encantadoras, um Geraldo Alckmin, por exemplo, ou um Henrique Meirelles não
bastam. E não! A recusa nada tem a ver com o fato de que seriam “políticos
tradicionais” — Meirelles disputou apenas uma eleição e, com efeito, teve papel
fundamental duas vezes no equilíbrio das contas; contribuiu para tirar o país
do abismo em ambas as circunstâncias…
Se é “liberalismo” que
querem esses valentes, as opções estão dadas. Até João Amoêdo, novo, mas
inequivocamente liberal, atenderia a esse pressuposto.
O Bolsonaro que atrai
essas camadas de que falo é justamente o ILIBERAL, o reacionário, o do discurso
fascistoide, o que alimenta a impressionante rede de ódio montada da Internet
para xingar, intimidar, desmoralizar, enquadrar e demonizar pessoas que
discordam dessa adorável visão de mundo.
A Folha publica nesta
sexta um exaustivo levantamento sobre os votos do “capitão”. Resumo:
antiliberal, corporativista, favorável ao aumento de gastos do Estado.
“Ah, mas o Guedes vai dar
um jeito nele!”
O Guedes, neste momento,
foi submetido ao silêncio obsequioso. Levou um cala-boca!
Fica mais fácil assumir
que o voto em Bolsonaro está ligado ao que essa gente pensa sobre pretos,
índios, mulheres, os “brasileiros” (que são sempre os outros), o Bolsa Família…
A reportagem sobre a
trajetória do corporativista, estatista e antiliberal de Bolsonaro está aqui.
Ah, sim: sem querer
chatear ninguém, lembro que os pobres não vão desaparecer por mágica. Nem que
se meta a polícia para dar um jeito “nessa gente”…
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