Diário de Pernambuco
Quase 2 mil caminhoneiros
estão em, no mínimo, 15 novos grupos do WhatsApp recém-criados para discutir
uma possível paralisação da categoria na segunda (22).
Eles estão contrariados
com a resolução da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) que
estipulou a nova tabela de preços mínimos do frete rodoviário, divulgada na
quinta (18), com valores abaixo dos esperados. A realização da paralisação não
é consenso entre os participantes. Parte dos grupos é refratária à ideia por
conta da dificuldade financeira que teriam com os dias sem trabalhar.
Os administradores dos
novos grupos negam ser articuladores do movimento, ao mesmo tempo em que
algumas lideranças que tomaram a dianteira durante a paralisação de 2018 não
estão em nenhum deles. O nome dos grupos segue sempre o mesmo formato, com o
título formado por paralisação, a data de 22/07 e a abreviação do nome de um
estado.
Apesar serem vinculados a
um estado, a maior parte deles é formada por pessoas de regiões diferentes da
indicada. Eles trazem em suas descrições o mesmo texto: “Publicações fora do
contexto das pautas dos caminhoneiros não serão aceitas. FOCO NA MISSÃO!”
Foram disparados avisos
sobre o risco de uma ação de contra-inteligência estar sendo realizada dentro
dos grupos, com membros do governo se passando por caminhoneiros. Parte dos
trabalhadores se diz intervencionista, defendendo um regime militar. A
rotatividade dos grupos é alta. São muitos os avisos de pessoas que entraram
usando um link compartilhado por outra pessoa no WhatsApp e outros de pessoas
que decidiram sair.
A reportagem foi expulsa
de dois deles por um desses administradores após procurá-lo em particular pelo
WhatsApp para pedir informações. Outra administradora que trocou mensagens com
a reportagem disse que não poderia dizer nada, pois não falava em nome dos
caminhoneiros.
Segundo ela, o movimento
começou simultaneamente em vários locais. Wanderlei Alvez, o Dedeco, um dos
articuladores da paralisação de 2018, diz que não participa dos novos grupos e
já foi retirado de alguns deles por seus organizadores. Ele afirma acreditar que
os grupos da paralisação de segunda não foram criados por caminhoneiros, pois,
segundo ele, a categoria o trata com respeito. Dedeco diz que o principal
problema da classe é justamente a falta de liderança e cobra maior protagonismo
da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) para defender o
interesse dos caminhoneiros junto ao governo.
O ministro de
Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, deve se reunir com representantes de
caminhoneiros e outras entidades afetadas pela nova tabela de fretes na próxima
semana. A data ainda não foi confirmada. Sobre a reunião, uma das mensagens
compartilhadas seguidamente pelo WhatsApp dizia que os caminhoneiros não
arredariam pé e, caso o ministro quisesse fazer reunião, teria de fazer na
pista. A nova tabela de fretes foi elaborada pela Esalq-Log, da USP, e a
próxima revisão oficial está prevista para o início de 2020.
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