Por Magno Martins.
A morte ronda o mundo. No
Brasil, já são 1.223 vidas ceifadas pelo coronavírus, o mal do século, que a
Medicina ainda não está sendo capaz de deter, apesar de tantos avanços. Mas em
meio a tantos velórios e enterros, outra chaga social tem matado mais do que o
Covid-19: a violência urbana descontrolada. Em Pernambuco, o vírus da morte já
arrastou 85 almas para a eternidade, com 950 casos.
Um número assustador, é
verdade. Mas a bandidagem continua dizimando mais vidas do que o vírus em
Pernambuco, um dos Estados líderes em homicídios no País. Só na última
sexta-feira, foram 11 assassinatos, cinco no Interior e seis na Região
Metropolitana. Em três meses e dez dias, foram 1.042 vidas encerradas pelo
terror da violência, com arma de fogo ou arma branca. Isso num Estado de
emergência, de guerra contra uma enfermidade em que a população se esconde em
casa.
Imagine se o pernambucano
estivesse levando a vida normal, com bares e inferninhos funcionando? As
estatísticas certamente seriam muito mais dolorosas. Falta uma política de
Estado para o combate ao extermínio de tanta gente. Concebido pelo então
governador Eduardo Campos (PSB), o Pacto pela Vida virou letra morta, é apenas
uma lembrança sem referências nos dias atuais.
O que tem levado
Pernambuco, mais uma vez, a retroceder na batalha contra a criminalidade? Falta
Governo. O Estado está sendo administrado por um governador fraco, sem pulso,
sem tesão para o que faz. Quando fala, sua boca treme de insegurança. Não passa
firmeza em absolutamente nada no que faz. Agamenon Magalhães dizia que ninguém
governa governador. Era uma analogia aos governantes implacáveis, temíveis, que
impunham respeito, sabiam a honrar e exercer o poder soberano dado pelo povo
nas urnas.
Em tempos de coronavírus,
assistimos a desmoralização do Estado. Decretos baixados por um chefe débil que
ninguém respeita. O mais notável: a proibição de reuniões com grupos acima de
cinco ou dez pessoas. Sábado passado, em Santa Cruz do Capibaribe, uma multidão
foi filmada numa praça pública a espera do peixe da Páscoa, que segundo o
prefeito Edson Vieira (PSDB), não foi obra da sua gestão, mas iniciativa de um
empresário local.
Ora, quem manda no
município? Ele ou o empresário que não citou nome na nota enviado ao blog
depois de feita a denúncia? O próprio prefeito do Recife, Geraldo Júlio, aliado
de primeira grandeza do governador, já desrespeitou também o decreto estadual
distribuindo cestas básicas nas escolas em filas quilométricas, numa ação
coordenada pelo secretário municipal de Educação, Bernardo D'Almeida.
Se um governador não tem
autoridade para que um decreto baixado por ele seja cumprido e respeitado,
imagina que a ele falte mais do que autoridade para conter a violência urbana.
Falta governar! O que ele não tem feito. Tem deixado fazer por ele. Quanto a
quem governa em seu lugar, o povo pernambucano está caduco de saber.
A grande tragédia – O caso
mais exposto e explicito da onda de violência desenfreada no Estado mexeu com a
nata da sociedade pernambucana: o assassinato do defensor público e advogado
paraibano Levi Borges, 72 anos, tombado sem vida em frente a um condomínio de
luxo na praia do Paiva com por dois tiros, quinta-feira passada. O que chama
atenção no crime são três fatores: o local (condomínio de nobres, cujo acesso é
pedagiado), a falta de policiamento na área e o silêncio da Polícia. O que de
fato motivou a tragédia? A Polícia prendeu o suposto autor dos disparos que, em
depoimento, confessou que matou para roubar o carro da vítima. Pelas
circunstâncias, ninguém até agora de bom senso engoliu essa versão.
Para um entendedor...–Na
fase do coronavírus, o governador mostrou uma faceta que só corrobora com a
tese de que faltam políticas de segurança para conter o avanço da violência
urbana no Estado: encheu de policiais, com cavalos e cachorros treinados para
guerra, o calçadão de Boa Viagem para impedir que as pessoas praticassem o
saudável hábito de caminhar, enquanto nos morros e áreas mais acentuadas pelo
crime escasseavam homens fardados e armados para garantir a segurança da
população encarcerada pelo medo da morte pelo vírus do terror.
Sem dobradinha – O
secretário estadual de Turismo, Rodrigo Novaes, confirma que em Itacuruba está
apoiando o mesmo candidato a prefeito do deputado estadual e desafeto Fabrício
Ferraz (PHS), o ex-vereador de Caruaru, Diogo Cantarelli. Nega, entretanto, que
no mesmo município venha a fazer uma dobradinha para as eleições de 2022, ele
federal e Fabrício estadual. “Fabrício terá o apoio de Diogo para estadual, não
o meu”, diz Rodrigo, adiantando que o seu principal aliado em Itacuruba é o
ex-prefeito Romero Magalhães. “Eu, os meus familiares e as pessoas que me
tiverem atenção não acompanharão a candidatura de Fabrício”, reforça.
Nem aí – Por falar em
Rodrigo Novaes, o secretário deu um péssimo exemplo na Páscoa: quebrou a
quarentena e apareceu nas redes sociais distribuindo cestas básicas em
Floresta, principal colégio eleitoral de suas bases, num contato com grupos, o
que está proibido nas recomendações para se prevenir do contágio do coronavírus.
“Ontem, fiz entrega de cestas básicas que conseguimos arrecadar para
distribuição no Sertão do Estado. A ideia é levarmos para todo o Estado”,
escreveu o secretário em suas postagens. E ainda reclamou da desorganização da
fila. “Entreguei algumas em bairros e na lotérica, onde, infelizmente, ainda
havia desorganização na fila”, acrescentou. Na prática, o governador quer
controlar a população inteira, menos a sua equipe.
CURTAS
CAVALEIRA DA ESPERANÇA –
Pré-candidata do PT à prefeita do Recife, a deputada Marília Arraes, isolada e
cumprindo a quarentena, teve sua caixa eletrônica e o seu whatsapp enxotados de
mensagens de felicitações. Algumas despertaram curiosidade, como a do
prefeito-poeta de Tabira, Sebastião Dias, neoaliado do deputado petista Carlos
Veras, cão de guarda do senador Humberto Costa. Em versos, repentista bom que
é, Sebastião saudou Marília como “cavaleira da esperança”. Com a palavra,
Veras, que vive defenestrando o projeto majoritário do PT no Recife em defesa
da manutenção da aliança em apoio ao príncipe João Campos (PSB).
CONFUSÃO EM BONITO – Em
Bonito, o coronavírus antecipou e aqueceu a pré-campanha municipal com a
demissão do médico e vereador Edmilson Henauth, filiado ao PCdoB. A degola se
deu por telefone pelo prefeito Gustavo Adolfo (PSB) em plena quinta-feira da
Paixão. A população se rebelou pelo fato de Edmilson, mesmo sendo parlamentar,
ser um exemplar e cuidadoso médico em atendimento a pacientes contaminados ou
suspeitos de Covid-19. Em nota, o próprio prefeito disse que o demitiu por ter
faltado ao trabalho em dias imprescindíveis ao atendimento público. Mas, na
verdade, a demissão é política. Querido e com serviços prestados a Bonito, o
médico é candidato fortíssimo a prefeito, com potencial para impedir a
reeleição de Gustavo.
ROMPIMENTO EM PAUDALHO –
Aliado histórico, o presidente da Câmara de Vereadores de Paudalho, Josimar
Cavalcanti (PP), rompeu com o prefeito Marcelo Gouveia (PSD), alegando que
recebe dele tratando de adversário. O estopim foi à distribuição de cestas básicas
bancadas pela viúva em redutos do vereador Heristow Aragão (PSD), com quem não
se bica. Como Josimar já jogou a toalha por diversas vezes e depois recuou,
poucos acreditam que desta vez seja mesmo para valer.
Perguntar não ofende: Até
quando Pernambuco vai continuar na liderança do ranking da mortandade?
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