Por Raphael Guerra/JC
Ao mesmo tempo em que mais casos de policiais militares com problemas de saúde mental são revelados, a insatisfação nos batalhões de Pernambuco também cresce. PMs relatam uma rotina de pressão por metas, exigência de participação em plantões extras nos dias de folga e até ameaças de transferência para outras cidades.
Vários depoimentos, da capital ao interior, foram colhidos nas últimas semanas em todos, os militares afirmam que estão esgotados de tantos dias consecutivos trabalhados e sem intervalo para descanso. Por causa disso, segundo eles, os casos de ansiedade, depressão e afastamentos para tratamento de saúde se multiplicam nos batalhões.
A pedido dos entrevistados, com medo de retaliações, seus nomes serão preservados.
“Estamos exaustos, desmotivados. O governo diz que os Programa de Jornada Extra de Segurança (PJES) é voluntário. Mas, na prática, somos obrigados a dar 10, 12 plantões extras por mês. A gente quer ter um fim de semana descansando com a família, com nossos filhos, mas somos surpreendidos com mais trabalho”, conta um policial militar do Batalhão de Choque, cuja sede fica no Recife.
“Os comandantes só estão preocupados com metas, porque querem ser promovidos com merecimento. Mas a sobrecarga para o policial é muito grande. Se a gente se nega a fazer um plantão extra ou não atinge o resultado esperado, somos ameaçados de transferência para um batalhão mais distante da nossa casa. É por isso que há cada vez mais policiais doentes”, disse o mesmo PM.
No interior, segundo os relatos dos policiais, a rotina de pressão é a mesma. No 9º Batalhão, que é responsável pela segurança de municípios como Garanhuns e São João (onde ocorreu uma chacina com cinco mortos na semana passada), no Agreste do Estado, a insatisfação é grande.
“Policiais estão sem gozo de folga em decorrência da Operação Pernambuco Seguro. Eles trabalham a pulso. Os policiais que não aceitam trabalhar no (plantão) extraordinário são ameaçados de transferência para outras unidades. Boa parte dos maus resultados do Batalhão é fruto dessa insatisfação”, afirmou outro militar.
A Operação Pernambuco Seguro foi anunciada no dia 12 de janeiro, com a promessa de mais policiais militares nas ruas. Como há um déficit de mais de 10.950 profissionais na corporação, a alternativa foi o lançamento de mais plantões extras, aumentando a insatisfação da categoria.
Os policiais reforçam que, mesmo antes da operação criada pela gestão da governador Raquel Lyra, já havia um excesso de plantões extras na tentativa de garantir a segurança das ruas, em meio à falta de efetivo.
Para cada plantão, o PM recebe R$ 180 de diária
Os policiais ouvidos pela coluna dizem que os recentes episódios envolvendo militares – ameaça a uma subcomandante do 16º Batalhão e o ataque a tiros contra PMs do 19º Batalhão, ambos com sedes na capital,- são consequência dos problemas mentais gerados pela sobrecarga de trabalho.
No dia 15 de janeiro, um tenente que estava de plantão no 16º Batalhão, no bairro de São José, informou ao seu superior que havia encontrado na parede do auditório a seguinte mensagem: “Cuidado Maj para não ser a próxima”. O nome da major, que é subcomandante do batalhão, foi escrito na parede.
A suspeita é de que a mensagem tenha sido escrita por um policial militar lotado no batalhão, visto que o acesso ao imóvel é bastante restrito. O caso está sendo investigado.
Em 20 de dezembro, o soldado Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, matou a esposa grávida no Cabo de Santo Agostinho e seguiu até o 19º Batalhão, onde atirou em colegas de farda. Dois morreram. O soldado teria tirado a própria vida em seguida. Após mais de 40 dias, o inquérito policial militar que pretende esclarecer a motivação do ataque ainda está em aberto.
Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, sete policiais militares da ativa cometeram suicídio em Pernambuco em 2021. Já em 2020, foram quatro óbitos.
Ministério Público está ciente dos problemas
Na semana passada, o novo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Tibério César dos Santos, esteve em uma reunião no Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e o problema da saúde mental entre os policiais foi abordado.
“O comandante da Polícia Militar externou essa preocupação, esse olhar especial que eles (governo) estão pretendendo ter com relação à questão da saúde mental dos policiais. Também há ciência da sobrecarga que existe. Muitos precisando é abusar, digamos assim, da jornada extra”, disse a promotora de Justiça Helena Martins, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa Social e Controle Externo da Atividade Policial.
“Há necessidade do comando ter esse controle de não possibilitar que esses policiais exaustos estejam nas ruas. O Ministério Público está querendo também, junto com a Promotoria da Saúde, estabelecer critérios e isso será através de um procedimento em conjunto”, completou a promotora.
Psicólogos nos Batalhões da PM
Em entrevista à coluna, no mês passado, o coronel Tibério César dos Santos disse que está em análise a contratação de mais psicólogos para atendimento ao efetivo policial.
“O objetivo é lutar para que cada batalhão tenha um psicólogo no seu quadro para dar prevenção, orientação e identificar possíveis comportamentos que precisam de atenção”, explicou.
A PM de Pernambuco conta, atualmente, com pouco mais de 16 mil militares na ativa. Os profissionais estão divididos em 26 batalhões – sem contar as outras 14 unidades especializadas (a exemplo do Batalhão de Polícia de Radiopatrulha e Batalhão de Operações Especiais).
A corporação conta com centros de assistência nos municípios do Recife, Palmares, Caruaru, Petrolina e Serra Talhada.
Ao mesmo tempo em que mais casos de policiais militares com problemas de saúde mental são revelados, a insatisfação nos batalhões de Pernambuco também cresce. PMs relatam uma rotina de pressão por metas, exigência de participação em plantões extras nos dias de folga e até ameaças de transferência para outras cidades.
Vários depoimentos, da capital ao interior, foram colhidos nas últimas semanas em todos, os militares afirmam que estão esgotados de tantos dias consecutivos trabalhados e sem intervalo para descanso. Por causa disso, segundo eles, os casos de ansiedade, depressão e afastamentos para tratamento de saúde se multiplicam nos batalhões.
A pedido dos entrevistados, com medo de retaliações, seus nomes serão preservados.
“Estamos exaustos, desmotivados. O governo diz que os Programa de Jornada Extra de Segurança (PJES) é voluntário. Mas, na prática, somos obrigados a dar 10, 12 plantões extras por mês. A gente quer ter um fim de semana descansando com a família, com nossos filhos, mas somos surpreendidos com mais trabalho”, conta um policial militar do Batalhão de Choque, cuja sede fica no Recife.
“Os comandantes só estão preocupados com metas, porque querem ser promovidos com merecimento. Mas a sobrecarga para o policial é muito grande. Se a gente se nega a fazer um plantão extra ou não atinge o resultado esperado, somos ameaçados de transferência para um batalhão mais distante da nossa casa. É por isso que há cada vez mais policiais doentes”, disse o mesmo PM.
No interior, segundo os relatos dos policiais, a rotina de pressão é a mesma. No 9º Batalhão, que é responsável pela segurança de municípios como Garanhuns e São João (onde ocorreu uma chacina com cinco mortos na semana passada), no Agreste do Estado, a insatisfação é grande.
“Policiais estão sem gozo de folga em decorrência da Operação Pernambuco Seguro. Eles trabalham a pulso. Os policiais que não aceitam trabalhar no (plantão) extraordinário são ameaçados de transferência para outras unidades. Boa parte dos maus resultados do Batalhão é fruto dessa insatisfação”, afirmou outro militar.
A Operação Pernambuco Seguro foi anunciada no dia 12 de janeiro, com a promessa de mais policiais militares nas ruas. Como há um déficit de mais de 10.950 profissionais na corporação, a alternativa foi o lançamento de mais plantões extras, aumentando a insatisfação da categoria.
Os policiais reforçam que, mesmo antes da operação criada pela gestão da governador Raquel Lyra, já havia um excesso de plantões extras na tentativa de garantir a segurança das ruas, em meio à falta de efetivo.
Para cada plantão, o PM recebe R$ 180 de diária
Os policiais ouvidos pela coluna dizem que os recentes episódios envolvendo militares – ameaça a uma subcomandante do 16º Batalhão e o ataque a tiros contra PMs do 19º Batalhão, ambos com sedes na capital,- são consequência dos problemas mentais gerados pela sobrecarga de trabalho.
No dia 15 de janeiro, um tenente que estava de plantão no 16º Batalhão, no bairro de São José, informou ao seu superior que havia encontrado na parede do auditório a seguinte mensagem: “Cuidado Maj para não ser a próxima”. O nome da major, que é subcomandante do batalhão, foi escrito na parede.
A suspeita é de que a mensagem tenha sido escrita por um policial militar lotado no batalhão, visto que o acesso ao imóvel é bastante restrito. O caso está sendo investigado.
Em 20 de dezembro, o soldado Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, matou a esposa grávida no Cabo de Santo Agostinho e seguiu até o 19º Batalhão, onde atirou em colegas de farda. Dois morreram. O soldado teria tirado a própria vida em seguida. Após mais de 40 dias, o inquérito policial militar que pretende esclarecer a motivação do ataque ainda está em aberto.
Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, sete policiais militares da ativa cometeram suicídio em Pernambuco em 2021. Já em 2020, foram quatro óbitos.
Ministério Público está ciente dos problemas
Na semana passada, o novo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Tibério César dos Santos, esteve em uma reunião no Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e o problema da saúde mental entre os policiais foi abordado.
“O comandante da Polícia Militar externou essa preocupação, esse olhar especial que eles (governo) estão pretendendo ter com relação à questão da saúde mental dos policiais. Também há ciência da sobrecarga que existe. Muitos precisando é abusar, digamos assim, da jornada extra”, disse a promotora de Justiça Helena Martins, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa Social e Controle Externo da Atividade Policial.
“Há necessidade do comando ter esse controle de não possibilitar que esses policiais exaustos estejam nas ruas. O Ministério Público está querendo também, junto com a Promotoria da Saúde, estabelecer critérios e isso será através de um procedimento em conjunto”, completou a promotora.
Psicólogos nos Batalhões da PM
Em entrevista à coluna, no mês passado, o coronel Tibério César dos Santos disse que está em análise a contratação de mais psicólogos para atendimento ao efetivo policial.
“O objetivo é lutar para que cada batalhão tenha um psicólogo no seu quadro para dar prevenção, orientação e identificar possíveis comportamentos que precisam de atenção”, explicou.
A PM de Pernambuco conta, atualmente, com pouco mais de 16 mil militares na ativa. Os profissionais estão divididos em 26 batalhões – sem contar as outras 14 unidades especializadas (a exemplo do Batalhão de Polícia de Radiopatrulha e Batalhão de Operações Especiais).
A corporação conta com centros de assistência nos municípios do Recife, Palmares, Caruaru, Petrolina e Serra Talhada.
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