O retorno dos trabalhos da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na manhã de ontem, deveria ter sido focado nos discursos em prol da harmonia dos Poderes e da união pelo desenvolvimento do estado. O destaque, contudo, não foi visto na tribuna do plenário, e sim ouvido pelos áudios vazados, na transmissão ao vivo no Youtube da própria Alepe, do presidente da Casa, Álvaro Porto (PSDB), contra a governadora Raquel Lyra (PSDB).
Ferrenho
opositor da corregelionária, o tucano ironizou o seu discurso, enquanto
ela ainda deixava a tribuna: "ela vai demorar que só a po** para sair, e
o dela (discurso) eu não entendi nada, conversou merda demais e não
disse nada". A fala do tucano causou repúdio nos partidos aliados, no
próprio PSDB, e, claro, em Raquel, que é a primeira mulher a ser eleita
governadora de Pernambuco. "É um ato lamentável de violência política o
que se passou, às vezes é em gestos, em atitudes, em ações e hoje foi em
voz. Lamento porque isso não está à altura do que Pernambuco
representa, um diálogo fora de propósito, e revela o que uma mulher
sofre nos espaços de poder", retrucou a tucana em entrevista à Rádio
Transamérica, logo depois.
Em
nota enviada à imprensa, a Executiva Nacional do PSDB afirmou
manifestar integral solidariedade à governadora. "Nosso partido luta
incessantemente para que as mulheres sejam protagonistas de verdade na
política e em todos os espaços de poder. Nós, tucanos, temos muito
orgulho de termos eleito uma jovem e competente mulher como governadora
de Pernambuco e não podemos tolerar manifestações agressivas contra ela
venha de quem vier. Muito menos de um deputado do próprio PSDB", disse.
Na sequência, a sigla afirmou que o Conselho Nacional de Ética e
Disciplina "está pronto para avaliar eventuais medidas disciplinares
contra o deputado".
Após
o dia de polêmicas, às 20h, na sua página no Instagram, Álvaro Porto
assumiu ter usado "uma expressão não condizente com o contexto e local
ao avaliar o discurso da governadora". Na mesma publicação, todavia, o
presidente da Alepe voltou a reforçar suas críticas, afirmando estar
indignado e "ter o direito e o dever de avaliar e criticar discursos que
não correspondam à realidade vivida em Pernambuco".
A
indignação às palavras de Raquel Lyra, a qual Álvaro Porto se refere,
foi pelo fato dela ter listado as ações de sua gestão em 2023, como a
reforma administrativa, a redução do IPVA e o programa Pernambuco Sem
Fome. "Como tenho dito, fizemos de 2023 um ano de mudanças. E isso fica
cada vez mais claro quando refletimos sobre o caminho já traçado. Com os
novos rumos já alinhados, partiremos agora, em conjunto com a
Assembleia Legislativa, para acelerar as transformações. Isso será
possível por tudo aquilo que plantamos aqui", disse ela na tribuna.
Nas
redes sociais, a vice-governadora de Pernambuco, Priscila Krause
(Cidadania), que também estava na solenidade, afirmou que "infelizmente,
este dia vai ficar marcado na história como um dia de violência
política de gênero".
"Lamentavelmente,
a política de gênero está presente todos os dias. Na maior parte de
maneira implícita, mas às vezes de maneira explícita, como aconteceu
hoje (ontem). Mas nós, como mulheres na política, temos o dever perante
todos os pernambucanos, mas especialmente perante todas as mulheres, de
seguirmos firmes na luta. Cada vez que uma mulher ocupa um espaço de
poder, todas as mulheres ocupam", cravou.
Na
entrevista coletiva que Álvaro Porto concedeu após a cerimônia de
abertura dos trabalhos legislativos, ele disse esperar que o diálogo
proposto por Raquel Lyra não fique só no discurso. Lembrou dos projetos
encaminhados em caráter de urgência e da ação de inconstitucionalidade
movida pela governadora no STF para anular emendas aprovadas na Lei de
Diretrizes Orçamentária (LDO).
Apesar
do clima entre a Alepe e a governadora ter sido marcado por conflitos
em 2023, e ter iniciado o ano com mais embates, ela fez questão de
agradecer a parceria dos parlamentares. Raquel ressaltou os votos
favoráveis dos deputados em projetos do Executivo.
Antes
de iniciar seu discurso, Raquel estendeu a bandeira de Pernambuco na
tribuna, citou os nomes dos deputados e secretários presentes na
solenidade, e agradeceu a Álvaro Porto pela acolhida que recebeu ao
chegar à Casa Joaquim Nabuco, sem saber o que viria depois. "O que me
condena é eu ser mulher", falou após o vazamento do áudio.Diário de PE
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