A necessidade inerente aos seres humanos de se comunicar o
mais rápido possível levou, em 1835, Samuel Morse a criar um código, que
através da interrupção da corrente elétrica com intervalos curtos (pontos) e
longos (traços) tornaria possível a comunicação remota entre indivíduos,
nascendo a telegrafia, em inglês CW. Este código em homenagem ao seu criador é
denominado Código Morse.
Com a criação em 1906, nos Estados Unidos da América, de uma
rede telegráfica costeira para tráfego operacional, seus operadores, em
momentos de folga, a usavam para conversação informal. Esta atividade cada vez
mais intensa podemos citar como o início da atividade radioamadorística em
telegrafia, que só foi regularizada uma década após.
A
comunicação através da palavra humana utilizando as ondas eletromagnéticas de
rádio foi inventada pelo brasileiro Padre Roberto Landell de Moura. Convém
citar que o rádio inventado pelo italiano Guglielmo Marconi só transmitia e
recebia sinais de telegrafia, aqueles criados por Morse.
Alguns
autores citam que o gaúcho Landell de Moura começou suas experiências a partir
de 1893/4 ainda não comprovado, porém comprovadamente efetuou uma demonstração
pública acompanhada, inclusive, por autoridades estrangeiras, no dia 03 de
junho de 1900, na cidade de São Paulo, feito noticiado pelo ‘’Jornal do
Comércio’’ de 10 de junho de 1900:
‘’ No
Domingo próximo passado, no alto de Santana, cidade de São Paulo, o Padre
Landell de Moura fez uma experiência particular com vários aparelhos de sua invenção,
no intuito de demonstrar algumas leis por ele descobertas no estudo da
propagação do som, da luz e da eletricidade através do espaço (...), as quais
foram coroadas de brilhante êxito (...) assistiram a esta prova, entre outras
pessoas, o Sr. P.C.P. Lupton, representante do Governo britânico, e sua
família’’.
As
autoridades brasileiras de então e a imprensa não deram valor as experiências
de Landell de Moura. Como foi ressaltado pela imprensa no jornal “La voz de
España”, editado em São Paulo, do dia 16 de dezembro de 1900. Isto, porém nada
o desanimou, sendo que em 09 de março de 1901 obteve para os seus inventos a
patente brasileira n° 3.279 e em 11 de outubro de 1904, após muito sacrifício
pessoal, a patente n° 771.917, do ‘’The Patent Office of Washington’’, para um
transmissor de ondas; em 22 de novembro de 1904, patente n° 775.337 para um
telefone sem fio e a de nº 775.846 para um telégrafo sem fio.
As
anotações feitas por Roberto Landell de Moura por ocasião de seus estudos e
experimentos foram minuciosamente estudadas pelo Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento, da antiga TELEBRÁS, tendo se concluído pela validade de suas
teorias. Este centro leva o nome de Padre Landell de Moura. Os originais destas
anotações estão guardados no Museu Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
Seus
estudos e seus inventos levaram a aparecer outros brasileiros que desejavam
transmitir e receber a voz humana emitida de locais cada vez mais distantes.
Surgem desta forma os primeiros radioamadores e por não ser uma atividade regulamentada
eram considerados clandestinos.
São Paulo
e Rio de Janeiro foram os primeiros Estados do Brasil a possuírem
radioamadores, seguidos do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e Pará.
Pesquisas
nos indicam que o primeiro radioamador brasileiro foi Lívio Moreira, em 1909.
Ele era telegrafista profissional do Departamento de Correios e Telégrafos.
Usava o indicativo SB-3IG.
Mais
tarde em 1922 surgiu Demócrito Seabra que usava o indicativo SB-2AJ, Seu cartão
ostentava as letras WS, abreviatura “wireless station”, nome pelo qual eram
denominadas as estações que operavam a bordo de navios. Pouco antes de
Demócrito surgiu José Jonotskoff de Almeida Gomes, que operou a estação de
“broadcasting” da Westinghouse, instalada no Alto do Corcovado, no Rio de
Janeiro, de onde transmitiu, em 1922, numa demonstração, para o recinto da
Exposição do Centenário da Independência do Brasil.
Verificamos que o Radioamadorismo existia no Brasil desde 1909, mas não
era regulamentado, naquela época eram perseguidos pelas autoridades, por serem
considerados clandestinos em uma atividade que era considerada privativa do
Estado, particularmente das Forças Armadas.
Em 05 de
novembro de 1924, ou seja, exatamente há setenta e sete anos passados, o
Governo Brasileiro pelo Decreto n° 16.657, que passou a legislar sobre o
Serviço de Radioamadorismo, reconhece o Radioamadorismo, tirando da
clandestinidade os seus praticantes e obrigando-os a submeter-se a exames para
obter a sua licença.
Os
primeiros exames foram realizados pelo antigo DCT em janeiro de 1925, no Rio de
Janeiro, e em fevereiro de 1926, em São Paulo.
Na década
de trinta surgem no Brasil duas entidades reunindo estes praticantes: uma em
São Paulo e outra na Capital da Republica, o Rio de Janeiro, sendo que em 02 de
fevereiro de 1934 estas se uniram e foi criada a LIGA DE AMADORES BRASILEIROS
DE RADIOEMISSÃO – LABRE, hoje Confederação Brasileira de Radioamadorismo, como
a legitima e única representante dos radioamadores brasileiros, tanto no âmbito
nacional como internacional, até os dias de hoje.
Em 29 de
junho de 1943, pelo Decreto-Lei nº 5.629, o Governo Brasileiro considerando o
trabalho desenvolvido por estes abnegados concidadãos, que sempre que são
chamados a colaborar estão prontos e não medem esforços para melhor o fazer,
considera os radioamadores reservistas do Exército e da Aeronáutica, reserva
especial da Forças Armadas, dando-lhes algumas regalias e considerando a sua
entidade, a LABRE, como Associação Civil de Utilidade Pública.
Os tempos
passam, as ciências evoluem, mas os Radioamadores continuam a ser aqueles
experimentadores científicos e de suas atividades novos inventos vem trazer
melhorias para a humanidade.
O correio
eletrônico da Internet de hoje nada mais é que uma decorrência das rudimentares
estações de ‘’packet radio”, ou simplesmente estações de radio pacote.
Muitos gostam de afirmar que a evolução da informática fez
diminuir o desenvolvimento do Radioamadorismo, não somos seguidores desta
afirmativa muito pelo contrário, aceitamos dizer que esta evolução veio
complementar a atividade radioamadorística.
O dia 5 de Novembro
foi escolhido para ser comemorado
o Dia do Radioamador Brasileiro por uma decisão unânime do antigo Conselho
Federal da LABRE, como preito de gratidão ao Presidente Arthur Bernardes pelo
seu Decreto de 1924.
RADIOAMADORISMO é CIÊNCIA, ESPORTE e
CULTURA.
Ciência: pelos constantes estudos, experimentos e pesquisas
dos seus praticantes e, principalmente, pela difusão ininterrupta e constante
de seus resultados no nosso próprio meio e mesmo no mundo científico.
Esporte: pelas diversas competições existentes, seja de
âmbito municipal, estadual, nacional ou internacional, ocasião em que se
confrontam esportiva e lealmente indivíduos de todas as camadas sociais e
profissionais das sociedades nacional ou internacional. Não se espantem se em
breve o radioamadorismo vier a se constituir em uma das modalidades olímpicas.
Cultura: pela troca constante de informações das mais
diversas naturezas entre seus praticantes, sem, contudo serem abordados assuntos
religiosos, políticos e comerciais, salutar entretenimento em que fala sobre a
sua localidade (bairro, município, região e país), sua gente, seus costumes,
sua língua, seus divertimentos, seus monumentos, seus fatos históricos, sendo
que no ano passado, juntamente com a sua co-irmã portuguesa, a Rede de
Emissores Portugueses – REP, a LABRE instituiu e distribuiu um maravilhoso
diploma comemorativo dos 500 Anos do Descobrimento do Brasil, com a colaboração
do Senado Brasileiro.
Podemos afirmar que os praticantes do Radioamadorismo são a
melhor e a mais barata mão-de-obra que o País pode contar para complementar ou
até mesmo suprir as suas necessidades de comunicações, haja visto a recente
Portaria nº 302, de 24 de outubro próximo passado, do Ministério da Integração
Nacional criando a Rede Nacional de Emergência de Radioamadores – RENER, como parte integrante
do Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC, que breve será regulamentada,
para tal foi criado um grupo de estudos constituído por integrantes da Defesa
Civil e da LABRE.
Sinto-me envaidecido de estar aqui representando a única
entidade reconhecida nacional e internacionalmente como a legitima
representante dos radioamadores brasileiros, a LABRE, em nome da qual agradeço
a gentileza dos Excelentíssimos Senhores Deputados da Assembléia Legislativa do
Estado de São Paulo que com esta Sessão Solene homenageiam àqueles que têm como
sentimento maior a preocupação no servir, sendo a sua máxima ‘’QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR, NÃO SERVE PARA
VIVER”.
Salve o BRASIL. Salve a LABRE. Salve os RADIOAMADORES
BRASILEIROS. Assim se expressavam os antigos radioamadores ao término de suas
transmissões. Muito obrigado.
Francisco Ricardo
Favilla – PT2RY
Diretor Executivo -
LABRE
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