Diante da expectativa de
uma inflação abaixo de 4,5% em 2017, o Banco Central decidiu por um novo corte
de 0,75 ponto na taxa básica de juros, para 12,25% ao ano, e indicou que pode
intensificar o ritmo de reduções nos próximos meses. Foi o segundo corte dessa
proporção desde que o BC começou o ciclo de redução da taxa básica, em outubro.
No comunicado divulgado
nesta quarta (22), o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central)
destacou que trabalha com uma projeção de inflação oficial de 4,2% em 2017. Ou
seja, abaixo do centro da meta de 4,5%. Esse seria o resultado do IPCA caso se
confirme a estimativa do mercado de uma taxa básica de 9,5% ao ano no final de
2017.
"Uma possível
intensificação do ritmo de flexibilização monetária dependerá da estimativa da
extensão do ciclo, mas, também, da evolução da atividade econômica, dos demais
fatores de risco e das projeções e das expectativas de inflação", diz o
Copom.
Para analistas, o fato de
o Copom ter citado a possibilidade de um corte de um ponto percentual nas
próximas reuniões indica que a intensificação não é mais uma hipótese desprezível.
"Existe [a possibilidade de redução maior na taxa], mas acho que estão
sendo cautelosos, no sentido de que estão esperando o avanço da agenda
econômica no Congresso", apontou André Perfeito, economista-chefe da
Gradual Investimentos, referindo-se à reforma da Previdência.
O cenário doméstico,
segundo o economista, é bastante favorável para o corte mais intenso dos juros:
atividade econômica muito fraca e safras generosas, que jogam para baixo os
preços dos alimentos no mercado interno. Este último ponto foi destacado pelo
Copom. "O processo de desinflação é mais difundido e indica desinflação
nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. Houve
ainda uma retomada na desinflação dos preços de alimentos, que constitui choque
de oferta favorável", diz o BC.
Para Mauricio Molan,
economista-chefe do banco Santander, o risco para uma trajetória de queda mais
intensa vem do cenário externo, como a possibilidade de um estímulo fiscal nos
EUA levar a um aumento nos juros pelo Federal Reserve.
RETOMADA
Para o Copom, o conjunto
de indicadores de atividade econômica mostra sinais mistos, mas compatíveis com
a estabilização da economia no curto prazo. "A evidência sugere uma
retomada gradual da atividade econômica ao longo de 2017", diz o texto.
A necessidade da
realização de reformas estruturais voltou a ser destacada. "O comitê
destaca a importância da aprovação e implementação das reformas, notadamente as
de natureza fiscal, e de ajustes na economia brasileira para a sustentabilidade
da desinflação e para a redução de sua taxa de juros estrutural."
O presidente do BC, Ilan
Goldfajn, já havia falado anteriormente sobre a "taxa de juros estrutural
da economia", que depende de fatores como produtividade, segurança
jurídica e redução do crédito subsidiado.
CENÁRIO EXTERNO
Apesar do cenário externo
incerto, o Copom observou que o ciclo favorável de alta de preços das
commodities tem amenizado riscos de revisões econômicas em países centrais, em
alusão às medidas desenhadas pelo americano Donald Trump que provocaram
instabilidade recente nos mercados.
Essas incertezas no
exterior podem dificultar o processo de queda da inflação, alerta o BC no
comunicado. "O choque de oferta favorável nos preços de alimentos pode
produzir efeitos secundários e, portanto, contribuir para quedas adicionais das
expectativas de inflação e da inflação em outros setores da economia", diz
a autoridade monetária, que adverte ainda que a recuperação da economia pode
ser mais lenta que o previsto anteriormente.
Para Jason Vieira,
economista-chefe da Infinity Asset, o BC manterá o corte de 0,75 ponto
percentual até o último trimestre deste ano, quando vai reavaliar o ciclo de
afrouxamento monetário. Em 2018, Vieira vê quedas de 0,25 ponto percentual,
principalmente se a meta de inflação mudar agora, na reunião de junho do CMN.
"Mas o BC vai monitorar riscos políticos e de o banco central americano
começar um ciclo muito forte de elevação de juros nos Estados Unidos",
ressalta.
Fonte: Folha de S.Paulo.
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