G1
O número de menores de
idade que aguardavam vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), nesta terça
(17), chegou a 91, em Pernambuco. Uma lista enviada pelo governo ao Ministério
Público (MPPE) apontou que havia 11 bebês e 80 crianças na fila. Desse total,
62 precisavam de leitos para pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave
(Srag).
Dados da Secretaria
Estadual de Saúde (SES-PE) mostraram que a espera dobrou na última semana. Em 8
de maio, eram 40 solicitações para leitos de UTI, sendo quatro para adultos e
36 para crianças. No domingo (15), chegou a 73 o número de solicitações, sendo
três para adultos e 70 para crianças.
Uma médica que trabalha em
seis unidades públicas de saúde do Recife e da Região Metropolitana relatou que
a situação é gravíssima e que chegou a ver o oxigênio ser retirado de uma
criança menos grave para socorrer uma que teve uma crise convulsiva.
Por medo de represália,
ela preferiu não ser identificada, mas afirmou que bebês e crianças chegam a
passar quatro dias esperando por uma vaga em leito de UTI. Com um quadro de
saúde grave, a demora, algumas vezes, é fatal.
“A
situação é caótica. As crianças estão morrendo. No meu plantão, tinha uma bebê
de dois meses que esperou quatro dias. No quarto, a gente conseguiu transferir,
finalmente. Ela chegou ao Barão de Lucena, foi intubada e no dia seguinte
faleceu”, lembrou.
Segundo a médica, há
relatos de ao menos três óbitos em 15 dias. Além da bebê de dois meses, ela
soube da morte de outros bebês de sete e de nove meses.
“Se
a gente tem o Barão de Lucena e Imip [Instituto de Medicina Integral Professor
Fernando Figueira] funcionando, com vaga, a gente tem outras possibilidades
antes de tentar intubar. E a gente não está tendo isso”, afirmou.
A médica também disse que,
por causa da situação, os plantões acabam ficando “fechados”. “Só atende quem
chegar grave. Febre, coceira no corpo, diarreia, não atende. E a gente está
tendo uma série de problemas com famílias, que não entendem que não existem vagas,
ficam revoltadas”, contou.
A Promotoria de Justiça de
Defesa da Saúde da Capital informou, por nota, que acompanha diariamente a
listagem da ocupação de UTI e que, diante do aumento da fila de espera,
instaurou uma notícia de fato, na segunda-feira (16).
Também na segunda, foi
remetido ofício ao Secretário Estadual de Saúde, André Longo, para que fossem
apresentadas, no prazo de 72 horas, “as
razões para o expressivo aumento da fila de espera por leito de UTI infantil
com Srag na rede estadual de saúde, nas últimas semanas, bem como as
providências adotadas para a solução do problema”.
O
que diz a SES-PE?
Por nota, a Secretaria
Estadual de Saúde afirmou que Pernambuco vive atualmente seu período de
sazonalidade das doenças respiratórias, quando, historicamente, há uma maior
ocorrência.
A SES-PE reconheceu o
aumento no fluxo de atendimentos pediátricos e disse que ele ocorre em toda a
rede hospitalar, pública e privada.
A secretaria também
explicou que predominam casos infecciosos, como vírus sincicial respiratório e
rinovírus e que, nos leitos voltados para casos de Srag na rede pública, menos
de 2% apresenta infecção pela Covid-19.
O governo informou que vem
trabalhando para ampliar a rede e atende o público “de forma descentralizada e regionalizada”.
A SES também afirmou que
mantém contato com entidades de classe e os serviços de referência e realizou
uma reunião, nesta terça, para tratar da assistência pediátrica no estado, mas
não informou o que foi definido no encontro.
A SES afirmou que, desde o
ano passado, foram abertos mais de 30 leitos de UTI para este público e que,
atualmente, a rede de saúde pública de Pernambuco conta com 233 vagas para bebês
e crianças com quadros respiratórios.
São 106 de UTI e 127 de
enfermaria. A ocupação geral destes leitos está em 72%, sendo 63% nas vagas de
enfermaria e 87% nas de Terapia Intensiva.
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