André Naves (*)
O Brasil foi reconhecido como o primeiro "País Criativo do Ano" (Creative Country of the Year) no Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions 2025. Não foi por acaso. A honraria reconhece o que nossos olhos já veem há séculos: a potência inventiva de um povo que transforma adversidades em soluções, tradições em inovações e diversidade em riqueza coletiva. Nossa criatividade é filha legítima da mistura de raças, culturas e biomas — um caldeirão onde o verde das florestas, o azul do céu e o brilho do sol se fundem ao sorriso aberto e à resiliência de quem sabe que a vida, mesmo dura, pode ser reinventada.
No cerne dessa criatividade está a capacidade de ver o mundo não apenas como ele é, mas como poderia ser. As gambiarras, tão brasileiras, são a expressão máxima desse espíritohhtecnologias desenvolvidas em favelas? Onde artistas da periferia lideram movimentos culturais globais? O onde a agricultura familiar, turbinada por inteligência artificial, vira modelo mundial de sustentabilidade?
Os caminhos para esse futuro passam pela democracia diária. Não basta votar a cada dois anos; é preciso escolher, todos os dias, construir estruturas sociais inclusivas. Isso significa políticas públicas que garantam educação universal de qualidade, saúde mental, acesso à cultura e ao emprego digno. Significa empresas que adotem práticas antirracistas e inclusivas, escolas que combatam o bullying com empatia e leis que protejam os mais vulneráveis.
A criatividade brasileira já é um farol. Mas para que ela ilumine todos os cantos de nossa sociedade, precisamos derrubar os muros da exclusão. Só assim seremos não apenas o país da criatividade, mas o país onde criar é um direito de todos.
* André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador cultural, escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).
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