Matheus confirmou a
presença crescente de jovens internados
em UTIs por conta da Covid-19.
Por André Luis
O programa A Tarde é Sua
da Rádio Pajeú, ouviu nesta segunda-feira (01.03), o médico afogadense Matheus
Quidute, que atua na linha de frente do combate à Covid-19, em hospitais no
Recife. Ele iniciou nesta segunda-feira, residência em pneumologia no Hospital
das Clínicas, influenciado pela vivência direta que tem tido há um ano no
combate a pandemia.
Assim como em outras
participações do jovem médico em entrevistas na emissora, Matheus fez relatos
impressionantes do dia-a-dia na linha frente.
Ele relatou que nas
últimas semanas tem acompanhado a internação de pessoas mais jovens nas UTIs em
que atende.
“A faixa etária vem
diminuindo, está em torno de 40 anos. Tivemos alguns casos, como, por exemplo,
de uma paciente gestante de 37 anos que ficou internada no Hospital Santa Joana
em estado muito grave, teve que ficar na Ecmo – aparelho que é usado quando a
prona nos pacientes intubados é ineficaz. Ele substitui o pulmão, enquanto a
inflamação diminui. Só tem em grandes centros médicos aqui na capital”, explicou
Matheus. “Tem paciente que saiu com cinco dias, outro com dezessete e tem
paciente que está há mais de vinte dias”, completou o médico explicando o tempo
que pacientes precisam usar o Ecmo.
Matheus relatou também o
caso de um outro paciente jovem, 38 anos, que também ficou internado na UTI e
precisou fazer uso do Ecmo.
Confirmou lotação de UTIs.
“Hoje se precisar de UTI você não consegue arrumar. A não ser que rode leito
com paciente saindo do estado grave ou indo a óbito. A situação é muito grave”,
alertou.
Ele voltou a chamar a
atenção para a importância do isolamento social como forma de evitar a
propagação do vírus, mas reconheceu ser uma situação complexa. “Sabemos que não
é fácil diante da crise econômica que vivemos. As pessoas precisam trabalhar,
precisam ir para a rua atrás de colocar o seu pão na mesa e é difícil você
pedir para essa pessoa ficar em casa, ela vai viver de quê? Então, é uma
situação bem complexa, eu não posso simplesmente dizer que aquela pessoa fique
em casa e esquecer que aquela pessoa precisa trabalhar”.
O médico criticou a lentidão das vacinas.
“A nossa vacinação nem se comenta muito, porque é ridículo o que está acontecendo. Este abandono… de acordo com os estudos o melhor meio para a prevenção é a vacina. Para evitar casos graves, evitar complicações e, aí você se depara com um país do tamanho do Brasil e não tem uma política para a aquisição das vacinas. Temos um presidente que ignora o problema, minimiza o fato, enfim, são interesses políticos que acabam prejudicando o andamento das coisas, acaba interferindo em outros setores como na economia, no setor de eventos de entretenimento, que estão aí prejudicados e vão continuar assim por um bom tempo até que haja uma mudança de postura do governo federal”, criticou.
Matheus disse não entender pessoas que ainda não se alertaram para o perigo da doença. “Exemplos não faltam. Eu penso que cada pessoa conhece ao menos uma que ficou internada, alguma pessoa que ao menos passou por um momento de medo de ver um familiar passar por isso. Mas as pessoas continuam se expondo, continuam os eventos clandestinos, que é muito comum entre os jovens e agora está sendo evidenciado com esse aumento de casos entre eles… espero que as pessoas se conscientizem.
No final de semana o médico postou uma foto de um paciente prestes a ser intubado que segurava um terço em uma de suas mãos. Ele contextualizou a foto.
“A fé dele me marcou
muito. Eu pedi a ele para registrar e quando eu estava explicando que iria
intubá-lo, disse que iria deixar o terço do lado para quando ele acordasse. Ele
me perguntou se iria acordar a noite, aí eu expliquei que infelizmente só
poderia acordá-lo [tirar da sedação] quando ele estivesse bem. E ele está
melhorando! Espero que tenha esse reencontro com o terço dele. São vivências
que vamos levar para sempre”, relatou.
Com dois anos de formado e
um atuando no combate a Covid-19, Matheus disse ter tirado muitas lições da
experiência.
“Geralmente eu brinco com
aquele plano de Juscelino Kubitschek: “50 anos em 5” e costumo dizer que evoluí
20 anos em 2. A quantidade de experiência que foi adquirida nesse período é uma
coisa sem tamanho. O fato de estar vivendo isso de perto de estar trocando
ideias com os pacientes e familiares isso tem comovido bastante e a gente passa
a valorizar outras coisas da vida. Mesmo sem querer a gente acaba ficando mais
cascudo para algumas coisas e tem o fato do aprendizado da própria medicina.
Acabou que por meio desse contato intenso com a Covid, acabei gostando
bastante, por isso estou iniciando a residência em pneumologia. Acabou por
fazer com que eu me encontrasse na medicina”, relatou.
Fonte:
Nill Junior
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