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João Paraibano nos estúdios da Rádio Pajeú: poesia de luto. Foto de Cláudio Gomes |
O concerto, na Sala de
Reboco, no Cordeiro, Recife, que aconteceria para arrecadar fundos para ajudar
a custear as despesas da família de João Paraibano com seu calvário, foi
confirmado, agora como homenagem póstuma, a um dos maiores nomes do repente contemporâneo.
Participarão nomes como Maciel Melo, Irah Caldeira, César Amaral, Sevi
Nascimento, Ed Carlos e Quinteto Sala de Reboco neste dia 4.
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Evento virou tributo ao poeta neste dia 4 no Sala de Reboco |
O forrozeiro Maciel Melo,
um dos organizadores do evento, tomou um susto quando tomou conhecimento da
morte de João. Foi avisado pela produção do programa Manhã Total (Rádio Pajeú).
Havia acordado tarde e foi pego pela notícia. Tanto ele como Santanna, que
costumam recorrer aos versos de João nas suas canções, destacaram que o desafio
agora é lutar para manter o seu legado e documentar seus versos. Com sua
simplicidade, João não ligava pra isso e muitas vezes era pego de surpresa como
ouvia alguém declamar um verso seu, sem saber o que a genialidade tinha o feito
expressar em versos.
Seu parceiro de 36 anos
Sebastião Dias, estava inconsolável esta manhã na Rádio Pajeú ao lado de
Diomedes Mariano, um dos responsáveis pelo registro e resgate de sua história.
“Estou como um boi de carro que perde seu parceiro. Como um canário que cantava
em dupla e viu o outro morrer na gaiola. Não sei o que eu perdi, se um amigo,
um irmão, um parceiro”. Sebastião lembrou o início da carreira e as emoções
vividas por ambos em mais de três décadas de viola. “Ganhamos o pão de nossos
filhos, choramos a saudade deles, vivemos muita coisa juntos”.
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João Paraibano e Sebastião Dias em uma de suas últimas aparições: para muitos apologistas, uma das maiores duplas de todos os tempos. Foto: Claudio Gomes |
Dió informou que já
existiam antes da morte de João algumas iniciativas para lançamento de livros
com versos históricos do poeta. Dió não tem dúvidas de que o Nordeste perdeu o
maior cantador de todos os tempos. “Cantadores temos muitos, poeta como João a
história não viu nascer”, diz.
Velório e sepultamento: a
família confirmou que o corpo que foi liberado pelo IML, será velado no Cine
São José, em Afogados da Ingazeira e sepultado nesta quarta (03) à tarde no
Cemitério São Judas Tadeu. Repentistas, artistas e admiradores de João de
várias partes do Nordeste se articulam para dar seu Adeus ao mestre do repente.
Em seu artigo no JC On
Line, José Teles faz um relato da forma como João morreu – também externando
seu desabafo – e descreve para quem não está habituado ao universo do repente
quem foi João Paraibano:
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Abalados, Sebastião Dias e Diomedes Mariano lamentam a morte de João Paraibano. foi no Debate das Dez de hoje na Rádio Pajeú |
Atropelado por uma moto em
Afogados da Ingazeira (PE), onde morava,
o repentista João Paraibano, foi transferido para o Recife, sem recursos, penou
de hospital em hospital, até falecer na madrugada de hoje, aos 62 anos.
Artistas e admiradores preparavam-se para realizar, quinta-feira, dia 4 de
setembro, um concerto beneficente para o violeiro. O concerto, na Sala de
Reboco, no Cordeiro, foi confirmado, agora como homenagem póstuma, a um dos
maiores nomes do repente contemporâneo.
Nenhuma autoridade
competente prontificou-se a ajuda-lo, porque João Paraibano só era conhecido e
admirado entre os que ainda curtem cantoria de viola, que muita gente confunde
com cordel. Aliás, no Sudeste, quando se fala em poesia popular nordestina, é
sobre cordel, hoje feito basicamente pela classe média, e comprado por turistas
em bancas de revista. Enquanto o repente, poesia viva, paradoxalmente, se
tornou uma manifestação de cultura popular underground.
A produção independente Prelúdios Nordestinos, de João Paraibano e Sebastião Dias, é tido com um dos maiores clássicos do gênero. |
Os órgãos de cultura
oficiais precisam urgentemente valorizar a poesia popular mais autêntica,
trazê-la para a vitrine dos eventos literários, o que. Inexplicavelmente,
raramente acontece.
Embora haja violeiros
jovens, em grande parte, o repente é praticado por poetas com idade acima dos
50 anos, e tem futuro sombrio. O
cantador de embolada já é espécie em extinção, contam-se nos dedos os
emboladores em atividade. Com raríssimas exceções, como Caju e Castanha, que estilizaram
a embolada para sobreviver em São Paulo, os poucos que ainda praticam este tipo
de poesia improvisada vive na penúria.
João Paraibano, ou João
Pereira da Luz, nasceu em 7 de outubro de 1952, em Princesa Isabel (terra de
Canhoto da Paraíba). Os versos abaixo, de sua autoria, (transcritos no perfil
do facebook do poeta Ésio Rafael), poderiam servir de epitáfio para o grande
cantador:
“Das coisas mais importantes
Deus me deu três e eu
aceito.
O chão para os meus pés
a viola presa ao peito
e um castelo de sonhos
pra ruir depois de feito”
Confiram João Paraibano e
Geraldo Amâncio, num galope a beira mar, no Teatro Municipal de Campina Grande:
Por Nill Júnior
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